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A fase mais complicada do Homem-Aranha: A saga do Clone

Não foi fácil, mas Peter Parker sobreviveu à isso tudo… A gente também :D

A década de 1990 começava bem para o Homem-Aranha. Desde 1985 o Escalador de Paredes tinha um terceiro título solo, Web of Spider-Man, que havia substituído Marvel Team-Up. Já em The Amazing Spider-Man< o desenhista Todd McFarlaneencantava os fãs do Aranha com uma arte diferente do que havia sido feita antes, que seguia o estilo de John Romita. As vendas iam bem, muito em parte por causa da especulação que existia no mercado no início da década.


Como McFarlane queria também escrever seus próprios roteiros, a Marvel Comics lançou um quarto título, simplesmente chamado Spider-Man. A primeira edição, com quatro capas variantes, vendeu mais de três milhões de exemplares, um recorde para a época. A Casa das Idéias foi obrigada a lançar reimpressões com mais quatro capas, que também venderam como água.
Mas, apesar das boas vendas, o Peter Parker que era visto nos gibis não era mais o mesmo nerd envergonhado criado por Stan Lee. De fotógrafo free-lancer, agora Parker tinha um emprego fixo no Clarim Diário, diploma de faculdade, era responsável, casado e até pensava em ser pai. A Marvel não se preocupou inicialmente, mas isso mudou quando as vendas começarem a cair.
Spider-Man #1, que vendeu mais de 3 milhões de cópias
Como já foi dito, o mercado dos quadrinhos vivia uma grande especulação no começo dos anos 90. Muitos revendedores de HQs compravam inúmeras cópias de cada edição, esperando que pudessem vendê-las mais tarde por um preço bem mais alto. Só que, obviamente, tudo que tem demais tem pouco valor... Para se ter uma idéia, Spider-Man #1 dentro do plástico selado e com a capa negra (que teve menos impressões) custa hoje 30 dólares, um valor bem baixo perto do que era esperado. Sendo assim, em pouco tempo a especulação levou a uma implosão do mercado de quadrinhos, com drásticas quedas nas vendas.
Os X-Men, impulsionados pelo grande sucesso do desenho animado, continuaram vendendo relativamente bem, mas isso também porque existiam inúmeros grupos e heróis mutantes. O Homem-Aranha era apenas um e ficava difícil ter o mesmo fôlego que os Filhos do Átomo, principalmente após perder Todd McFarlane para a recém-criadaImage e passar por uma fase fraca em termos de qualidade. Quem ainda ajudava o Cabeça-de-Teia a manter as vendas era Venom, que havia caído no gosto dos leitores.
Além de explorar inúmeras aparições do vilão das revistas do herói aracnídeo, um outro vilão com simbionte foi criado: Carnificina, que nasceu a partir de uma parte de Venom que foi assimilada por Cletus Kasady.

Outra tentativa de aumento de vendas, que ocorreu em The Spectacular Spider-Man #200< (Maio de 1993), foi a morte do Duende Verde II (Harry Osborn). Era um duro golpe para Peter Parker, que perdia seu ex-melhor amigo e pior inimigo.
Não contente, a Marvel iniciou ainda em 1993 uma saga em 14 partes, estrelando Venom e seu filho, chamada Carnificina Total. Na saga, o assassino com o simbionte se aliou a um grupo de vilões, o que obrigou o Aranha a também juntar forças com outros heróis, incluindo o Capitão AméricaPunho de Ferro e o próprio Venom. É claro que no final Carnificina acabou preso e a saga ainda serviu de ponto de partida para mostrar Venom como um anti-herói, culminando com uma revista própria do personagem.

Web of Spider-Man #117: Começa a Saga do Clone!

Começa a famosa Saga do Clone!

Como já era esperado, as sagas não surtiam O efeito desejado. A Casa das Idéias percebeu que era hora de modificar as coisas e elegeu o culpado pelas vendas: o rápido crescimento de Peter Parker.
Para a Marvel, nenhum dos leitores mais se identificava com o Homem-Aranha. Para a editora, era necessário que o personagem voltasse para o clima do começo de carreira, sem um casamento para atrapalhar. Foi aí que surgiu a ideia da famigerada Saga do Clone.
Na saga, os leitores descobrem que quem venceu a primeira Saga do Clone, já vista neste especial, foi o clone do Homem-Aranha e não o original. O verdadeiro Peter Parker acabou se aceitando como o clone e foi viver uma vida de reclusão pelos Estados Unidos com o nome deBen Reilly. Sendo assim, o Aranha visto por quase 20 anos, que havia se casado com Mary Jane e usado o uniforme negro, não era o original, mas sim um clone feito pelo Chacal.
Ao descobrir que a Tia May estava (novamente) mal de saúde, Reilly volta à  Nova York, onde fica cara-a-cara com seu clone e acompanha a morte (temporária) de sua tia. Apesar de um mal-estar inicial, os dois ficam amigos e Reilly assume a identidade de um novo herói: Aranha Escarlate. Infelizmente, Reilly teve que abandonar esta identidade depois que Dr. Octopus e Alistair Smythe criaram uma versão holográfica do herói para acabar com sua reputação.
No meio disso tudo, claro, um turbilhão do passado retornou para a vida de Peter Parker. O Chacal, vilão que criou o clone, também reapareceu, assim como surgiu Kaine, um clone mal-sucedido do herói, entre outras versões bizarras. Até um novo clone da Gwen Stacy deu as caras, só para atormentar AINDA MAIS a mente do Escalador de Paredes. Mas nós podemos ignorar tudo isso, né?
Depois de algum tempo de convivência entre o Homem-Aranha e Aranha Escarlate, Seward Trainer fez exames de sangue em Ben Reilly e Peter Parker, revelando que Reilly era o verdadeiro Homem-Aranha e Parker era o clone. Peter então se aposentou para curtir o casamento e a futura filha que teria com Mary Jane, já Reilly voltou a seu posto, assumindo a identidade de Homem-Aranha com direito a um novo e interessante uniforme.

O uniforme do clone
Agora tudo estava do jeito que a Marvel queria: o Homem-Aranha voltava a ser solteiro, com problemas financeiros e sem aquelas responsabilidades que ganhou através dos anos. Só que com isso a Marvel conseguiu deixar os leitores bem descontentes. Ninguém gostou de saber que tudo que leram nos 20 anos anteriores era uma mentira...
Às pressas, a Marvel articulou a fase final da Saga do Clone para acabar com o rolo na qual havia entrado. É aí que descobrimos que quem estava por trás de tudo era Norman Osborn, que conseguiu ressuscitar graças ao soro que lhe deu seus poderes. Durante um bom tempo o vilão viveu na Europa, mas voltou aos EUA para tramar a vingança ao saber da morte de Harry. Assim descobrimos que foi o Duende Verde que modificou os exames, colocando Ben Reilly como o original, apesar dele ser o clone.
No confronto final contra o Duende, Ben Reilly morre e tem o corpo degenerado, como todo bom clone. Mary Jane, que estava para ter o bebê, também é afetada e perde a criança. Era o fim de quase dois anos de Saga do Clone, para a alegria de muitos fãs.
Acabou? Não. A Marvel desistiu de substituir o Homem-Aranha, mas não de lançar sagas de qualidade duvidosa para aumentar as vendas. Em 1998 começou Crise de Identidade, quando o Duende Verde articulou um plano para considerar o Aranha culpado de assassinato. Com uma recompensa de 1 milhão de dólares por sua cabeça, o Aracnídeo foi obrigado a assumir uma outra identidade. Ou melhor, outras identidades, mais especificamente de Sombra, Ricochete, Vespa e Prodígio. Eventualmente a acusação foi desfeita e Parker voltou à  identidade do Amigão da Vizinhança.[/one-half][one-half last=”true”]

Crise de identidade


Se casamento e clones causavam controvérsia nos anos 90, ao menos a Casa das Ideias se empenhou em resolver uma antiga questão da década anterior. No meio da década, o roteirista Roger Stern retornou para os gibis do Homem-Aranha e revelou que a intenção dele nunca tinha sido colocar o Ned Leeds como o Duende Macabro, o que, de fato, estragou com o personagem. Sendo assim, ao final da Saga do Clone e antes de Crise de Identidade, a Marvel deu carta branca para que o roteirista publicasse a minissérie Hobgoblin Lives, que no Brasil saiu em Grandes Heróis Marvel #62, de 1998.
Na história, o Duende Macabro original — que não era Leeds — reaparece e mata Jason Philip Macendale Jr., que, na época, havia assumido o equipamento e o nome do vilão. Numa HQ que retoma o clima de mistério da década anterior, Homem-Aranha e sua identidade civil Peter Parker, Mary Jane e a viúva de Ned, Betty Brant, passam a investigar tudo que aconteceu há alguns anos — e tudo isso muito bem desenhado por Ron Frenz. No final, o trio descobre que a real identidade do vilão é a de Roderick Kingsley, um homem de negócios sem muita ética criado pelo próprio Stern nos anos 80 e que havia posto Ned Leeds sob controle mental para executar alguns de seus planos. Quando não havia mais sentido no uso do repórter do Clarim Diário, Kingsley mandou matar Ned. Assim, a reputação do velho amigo de Peter Parker estava restabelecida e a identidade do Duende Macabro era, finalmente, aquela que havia sido planejada desde o começo.
Antes que a década acabasse, mais precisamente no fim de 1998, a Casa das Idéias notou que era importante rejuvenescer as origens do personagem, que datavam da década de 60. Tal trabalho ficou nas mãos de John Byrne, que havia feito o mesmo com heróis como Mulher Maravilha e Super-Homem.
Spider-Man: Chapter One teve 13 edições, que contaram novamente como Peter Parker ganhou seus poderes de aranha. A série causou muita controvérsia, inclusive por misturar a origem do Aranha com a do Dr. Octopus e por substituir muita coisa criada por Stan Lee e Steve Ditko. Houve tanta repercussão negativa que os roteiristas hoje em dia não fazem referências à história, já que de acordo com Official Index to the Marvel Universe a origem considerada canônica hoje em dia é a de Amazing Fantasy #15. Até a numeração das revistas do Homem-Aranha, zerada no início de Chapter One, voltou para a contagem original alguns anos depois.
Os anos 90 terminavam. Apesar das inconstantes mudanças durante a década, o Homem-Aranha continuava a ganhar novos fãs por todo o mundo. E se a Marvel achava que as vendas podiam ser melhores, algo novo a ajudaria nesse crescimento na década seguinte: o cinema. :)

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